The Trip


Roger Corman – “The Trip” (1967)

As palavras que acabámos de ouvir anunciavam, em 1967, não o primeiro mas um dos mais famosos filmes sobre LSD – “The Trip” de Roger Corman, numa categoria de produções cinematográficas de baixo orçamento que explorava a temática das drogas e das suas manifestações no seio da sociedade americana. Os filmes da “drugsploitation”, cujo mais antigo registo arqueológico se poderá talvez encontrar num fotograma pertencente a um filme de Thomas Edison de 1894 - “Opium Joint”, retratavam situações de uso de estupefacientes e os seus efeitos, muitas vezes para denunciar os seus malefícios e dissuadir potenciais consumidores. Neste aspecto, o filme de Roger Corman é ambíguo, tendo sido mesmo acusado de promover a cultura psicadélica com a sua atitude “demasiado simpática” em relação a esses hippies que povoavam “The Trip”, desmentindo assim o carácter preventivo do anúncio inicial, o qual, muito provavelmente, correspondeu a uma exigência da American International Pictures. Na verdade, a minúcia e “realismo” na descrição dessa experiência com LSD – a qual é, sem dúvida, o motivo principal e exclusivo deste filme – pode muito bem dever-se ao facto de, tal como o argumentista – nada mais nada menos que um jovem e ainda desconhecido Jack Nicholson (sim, esse!) – e os restantes actores envolvidos no filme – Peter Fonda, Dennis Hopper e Bruce Dern -, o realizador ter experimentado a droga e a viagem que ela induz, como se pode ouvir pelas palavras do próprio neste excerto do “making-off”.


Como o próprio nome indica, o filme descreve a viagem alucinada de Paul Groves - um publicitário a viver uma fase crítica da sua existência, no meio de um divórcio contra a sua mulher, uma adúltera representada por Susan Strasberg -, que decide, com o auxílio do seu amigo bem intencionado John (Bruce Dern), fazer uma primeira experiência de auto-descoberta, induzida pela ingestão do ácido lisérgico. Este havia sido fornecido por Max, um dealer simpático, desempenhado por Dennis Hopper, que albergava em sua casa artistas, músicos e jovens raparigas adeptas do amor livre. Numa cabana de paredes pintadas com múltiplas cores e formas ondulantes, John ajuda Paul a dar os primeiros passos nas suas aventuras psicotrópicas, em que experimenta todo o tipo de visões, sexo desenfreado, perseguições com cavaleiros negros, a sua própria morte numa masmorra gótica e até mesmo um julgamento-circo, num carrossel presidido por Dennis Hopper, onde se julga o seu modo de vida consumista e o questionam sobre os seus dilemas existenciais.

Num momento de desatenção de John, Paul foge da cabana por julgar ter assassinado o seu amigo e a viagem acelera para um ritmo frenético e paranóico que o faz visitar uma casa de campo, onde se instala para ver o noticiário sobre o Vietnam, mas acaba por ser surpreendido pela companhia de uma menina e, logo depois, pelos seus pais, o que gera suspeitas de pedofilia e o faz mais uma vez continuar a sua fuga ao real. Chega à cidade, e encanta-se com o tambor das máquinas de lavar numa lavandaria, onde tenta estabelecer uma comunhão espiritual com uma utente, mas a sua tentativa frustrante e alienada rapidamente degenera numa repetida fuga para a euforia da vida nocturna californiana, ora numa danceteria decorada ao estilo da época, ora de regresso ao albergue hippie de Max, onde finalmente reconhece uma rapariga simpatizante das experiências ácidas, com quem se entrega numa noite escaldante e sobretudo alucinada de paixão dietilamídica. O filme tenta reproduzir visualmente, com os modestos efeitos especiais disponíveis, mas com engenho e imaginação, os efeitos da trip, acompanhando a sua evolução não-linear e desfragmentada, com um argumento experimental de escrita rápida e sincopada, do mesmo Jack Nicholson que, dois anos depois, haveria de protagonizar, ao lado de Dennis Hopper e Peter Fonda, “Easy Rider”, mas também “Voando sobre um Ninho de Cucos”, baseado no romance de Ken Kesey, outro dos principais protagonistas da contra-cultura psicadélica.

A banda sonora foi atribuída enigmaticamente a uma American Music band: o grupo The Electric Flag que aparece em cenas do filme.

O filme completo no Youtube: The Trip parte 1, parte 2, parte 3, parte 4, parte 5, parte 6, parte 7, parte 8 e fim.

3 comments:

Ines Saraiva said...

bolas, vocês não querem pôr letrinhas ainda mais pequenininhas?

Gárgula Eléctrica said...

Nós até reduzíamos o tamanho das letrinhas, mas depois não se conseguia ler! Eheh...

Faz tudo parte da experiência psicoscópica...

Open the doors of perception!

De qualquer forma, vamos ainda tentar melhorar a experiência blogo-CHIMICA.
Obrigado pela dica!

Unknown said...

É alto filme...por acaso já tinha visto.
Muito Timothy aqui vai. Recomendo vivamente!