Africadelics

África possui um contexto cultural ancestral que faz com que ao darmos atenção à sua música psicadélica, esta se confunda com séculos de experiências psicotrópicas. A exploração dos antípodas da consciência está implícita na linhagem cultural Africana em vários países, associando desde logo a música a rituais tribais e religiosos.

Acresce a singularidade socio-política que muitos países africanos vivenciaram, sobretudo na segunda metade de século passado. A progressiva descolonização levou a que muitas infra-estruturas pudessem ser rentabilizadas pelas populações locais, como foi o caso da indústria da música. O maior desafogo económico de alguns países - sobretudo oriundos do Oeste africano - permitiu que jovens músicos locais acedessem muito mais facilmente às potencialidades proporcionadas por material tecnológico de gravação, produção e edição musical. Juntando estes aspectos à permeabilidade das frontairas de países como a Nigéria, o Gana, o Benin ou o Togo, e fica-se com uma ideia mais clara sobre a assimilação por parte de músicos locais dos sons psicadélicos que chegavam sobretudo do Reino Unido e dos E.U.A.. A fusão das sonoridades ocidentais com a estrutura rítmica e tímbrica tradicional seguiu várias direcções, do rock à soul, do funk ao dub, ou da pop às franjas mais extremas do noise.

Alinhamento do programa:
Orchestre Poly-Rythmo de Cotonou - Cobeti Madjro (African Scream Contest: Psychedelic sounds from Benin and Togo, 2008)
King Sunny Adé & His African Beats - Eje Nlo Gba Ara Mi (Juju Music, 1982)
The Action 13 - More Bread to the People (Nigeria Rock Special Psychedelic Afro-Rock and Fuzz Funk in 1970s Nigeria, 2008)
Ofo and the Black Company - Allah Wakbarr (Nigeria 70: Defenitive Story of 70s Funcky Lagos, 2002)
William Oneyabor - Better Change Your Mind (Love's a Real Thing: The Funky Fuzzy Sounds of West Africa, 2005)
Sir Victor Uwaifo and his Africans Titibitis- Iranm Iran (Jackpot, 1981)
Gaspar Lawal - Kita-Kita (Ajomasé, 1980)


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Master Musicians of Joujouka

Nos dias 5 a 7 de Junho de 2009 a aldeia de Joujouka acolheu o Segundo Festival Anual dos Master Musicians of Joujouka. Se no ano transacto o mote de festival foi a celebração do quadragésimo aniversário da passagem de Brian Jones pela aldeia, este ano os 50 anos da edição, em Paris, de Naked Lunch, de William S Burroughs, voltaram a enquadrar o evento junto de nomes que viabilizaram o acesso à música de Joujouka aos ouvidos e mentes ocidentais.

Desde os anos 50 do século passado que Joujouka e os seus mestres músicos gozam de grande influência na música ocidental. Nomes maiores da Beat Generation (Brion Gysin, William Burroughs, entre outros) foram atraídos até à aldeia do Al Shrif marroquino pelos ritmos hipnóticos indutores de estados alterados da consciência, criando condições para que nomes como Brion Jones, Timothy Leary, Ornette Coleman ou Lee Renaldo por lá igualmente passassem. Brion Jones deixou mesmo um legado que ainda hoje é a imagem de marca da aldeia e dos seus músicos, ao gravar em 1968 "Brion Jones presents de Pipes of Pan at Jajouka".

Cerca de 25 pessoas puderam assistir às actuações deste grupo no seu contexto milenar. Os três dias em Joujouka foram passados na companhia dos músicos, que partilharam as suas casas e refeições. O sentimento de "invasão" a um contexto estranho que inevitavelmente surgia era diluído pela contemplação e atenuado pelos efeitos também invasivos de horas ininterruptas de audição da música do grupo. As pessoas responsáveis pela organização do festival deslocam-se há 15 anos a Joujouka, desenvolvendo uma relação próxima com a comunidade local, assegurando a edição de discos e livros que documentam o legado artístico do grupo. São entusiastas da cena beat que foram seguindo o rasto dos seus nomes. Organizam também esporádicas digressões fora de Marrocos - o grupo mantém a tradição de actuar nalguns eventos, como casamentos ou celebrações religiosas -, como a passagem por Portugal em Abril de 2006 para concerto na Casa da Música. Mas a polémica não está arredada da bucólica aldeia: existem "outros" Master Musicians of Joujouka, liderados por Bachir Attar (passaram por Portugal no verão de 2005, em Sines) e que não fazem parte da comunidade de Joujouka nem da irmandade sufi preconizada pelos locais (somente Attar tocou com os músicos); um diferendo entre Attar e a comunidade local levou a que aquele trilhasse outros caminhos, liderando um grupo de músicos que mantém a sua actividade fora de Joujouka.

As actuações dos músicos começavam pela manhã e estendiam-se até à noite por longas horas com escassas pausas. Pela aldeia ecoam os padrões rítmicos, tímbricos e melódicos em sequências drone intermináveis, em parte explicados pela técnica da respiração circular utilizada pelos músicos. O volume sonoro impressiona, levando o melómano a questionar-se se uma amplificação eléctrica teria efeitos tão poderosos quanto a acústica emenada das rhaitas, liras (os instrumentos de sopro, de cano duplo), tebel e tarija (os instrumentos de percussão, revestidos em pele de cabra e percutidos em ambas as faces), tornando a experiência auditiva uma performance onde a resistência física e a imersão dos sentidos caminham lado a lado, relembrando o potencial curativo e profundamente espiritual que acompanha a tradição musical de Joujouka. A assistência incluía os habitantes da aldeia e os visitantes, que ocupavam o chão da tenda situada num terraço que é o recanto dos músicos.

Já na praça central da aldeia, o transe atingiu o seu auge. Na performance Boujeloud (o Pai das Peles), um ritual de celebração da fertilidade das gentes e da terra através do culto ancestral a Pan, em que um ancião vestido com peles de cabra dança de forma exuberante imbuído pela vertigem hipnótica proporcionada pela música. Derivado das festas islâmicas de Ais el Kebir, o longo frenesim epitomiza os efeitos extáticos da música, levando o corpo a contornos delirantes. Mallim Ali Attar, 94 anos, o músico mais antigo da aldeia e único sobrevivente das míticas gravações de outrora, assistiu a tudo.

Ouvir aqui.

Apocalypse

“10*No dia do Senhor, o Espírito arrebatou-me e ouvi atrás de mim uma voz potente como a de uma trombeta, 11*que dizia: «O que vais ver, escreve-o num livro e envia-o às sete igrejas (...)
12*Voltei-me para ver de quem era a voz que me falava. E, ao voltar-me, vi sete candelabros de ouro; 13*no meio dos candelabros, vi alguém com aparência humana; estava vestido de uma túnica comprida até aos pés e cingido com um cinto de ouro em torno do peito; 14*a sua cabeça e os seus cabelos eram brancos, como a brancura da lã e da neve; os seus olhos eram como uma chama de fogo; 15*os seus pés assemelhavam-se ao bronze incandescente numa forja, e a sua voz era como o rumor de águas caudalosas; 16*Ele tinha na mão direita sete estrelas e da sua boca saía uma aguda espada de dois gumes; o seu rosto era como o Sol resplandecente com toda a sua força.
17*Ao vê-lo, caí como morto, a seus pés. Mas Ele colocou a mão direita sobre mim, dizendo: «Não tenhas medo!
Eu sou o Primeiro e o Último;
18*aquele que vive.
Estive morto; mas, como vês, estou vivo
pelos séculos dos séculos
e tenho as chaves da Morte e do Abismo!”
(Apocalipse, 1: 10-18)


Esta visão descrita no primeiro capítulo do último livro da Bíblia cristã, o Apocalipse, introduz uma série de revelações dadas em imagens maravilhosas a João de Patmos, o autor do livro. Tais imagens, visões simbólicas de uma verdade invisível, assumem formas múltiplas, de bestas miríficas e por vezes paradoxais que constituem no fundo os vários aspectos de uma só revelação e que é, na verdade, a de todo o Apocalipse. A etimologia e o significado da palavra grega é, de facto, levantar o véu, mostrar o que estava escondido, revelar, manifestar o invisível. E, por isso, são tão frequentes e insistentes as metáforas da luz, a iluminação, os candelabros, os olhos multiplicados que reforçam a intensidade da visão e do seu poder gnóstico, mas também a imagem dos sete selos quebrados que permitem abrir o livro escrito nas duas faces, que contém o verdadeiro saber, mantido secreto, sigiloso, para só agora ser revelado àqueles que foram escolhidos como mensageiros. A mensagem apocalíptica deste livro anuncia o fim de uma era, a do poder temporal, que será substituído pelo poder da graça espiritual e divina, mas terá sido o carácter de “apocalipsis eschaton” – revelação do fim de uma era – que terá transmitido à nossa cultura a ideia a que nos habituámos de um apocalipse como fim do mundo. E com evidência as imagens violentas de destruição e de cataclismo reforçaram esse sentido de Armagedão que para sempre lhe ficou associado, alimentando o terror de seitas milenaristas e servindo a retórica dos pregadores. Há porém muitos outros textos da tradição apocalíptica – tanto hebraica como copta - onde essa atmosfera catastrófica não é tão ostensiva ou está mesmo ausente. No entanto, em todos existem visões maravilhosas, anjos – criaturas intermédias que sensificam a palavra inefável de Deus – ou bestas impossíveis que representam conflitos interiores, sociais ou políticos. E é, pois, este recurso prolífico da figuração hiperbólica, das mensagens cifradas e de uma linguagem que revela um conhecimento esotérico apenas acessível a alguns, mas sempre com uma virtude libertadora e soteriológica – de salvação do espírito -, que caracteriza os apocalipses. Eles mostram visões do divino, tornando clara e manifesta a presença de Deus, algo próximo da enteogénese, com a diferença fundamental que a experiência do apocalipse é uma experiência literária, gnóstica, ainda que possa ser o resultado de uma experiência mística efectiva.


Tais escritos inspiraram ao longo de todos estes séculos muitos autores mas também artistas e músicos. Para ilustrar musicalmente esta crónica, escolheu-se a leitura electrónica em cinco andamentos do próprio texto bíblico, elaborada pelo demiurgo da música concreta, Pierre Henry, em 1968, com a narração feita pelo actor Jean Negroni. Editada inicialmente em 3 LP’s pela Prospective 21eme siècle, foi reeditada em CD pela Mantra Records e, mais recentemente, pela Philips. Do primeiro tempo, ouvimos ainda em fundo a abertura com o título muito revelador de “Titre-Revélation” em que João de Patmos apresenta o livro que está a escrever. Logo de seguida ouvimos a primeira faixa do 2º tempo, correspondente às primeiras aflições, ao Sétimo Selo e às sete trombetas, no momento em que aparecem os famosos quatro cavaleiros do Apocalipse. Do Terceiro Tempo – sobre os Sete Sinais – ouviu-se a descrição electro-acústica da Besta da Terra e, por fim, do quinto e último tempo, foi a vez da Babilónia, a Grande Prostituta, que simbolizava segundo algumas interpretações o Império Romano, mas que de forma mais geral e agostiniana pode significar a cidade dos homens, aquela que é governada pelo pecado, pela luxúria e pelo orgulho dos homens.



Sema: Sufi Trance


“Sabor da hora em que o Amado nos pertence, /A sua lembrança é o meu tesouro, /Indagai-o junto daquele sem o qual não passamos. /Tal é a minha bela ocupação, /Sou eu o mestre do vinho, /Cheio de graça, rasgar-me, ó delícia, /Entornar o meu tapete de orações, /Vinho sobre vinho, /Abençoai o meu rumor inebriado, /Pela manhã, ó legítima testemunha, /Ide saber quem eu sou, /Eu que erro até me perder no vinho, /Fazei-me escutar as mais belas melodias. /E não me esforçando por compreender, /Vendi o meu burel, a minha camisa, a minha túnica /E fiquei todo nu, titubeante, /Vacilante, avinhado, eis-me aturdido, /Entorpecido, entre taças e copos que me rodeiam. /A alegria apodera-se dos espíritos, /Não consigo deixar de beber, /Tal é o meu destino, tomai disso conhecimento, /Ó pobres, ó príncipes e guardai o segredo /Quando de novo despertar, ó pobres, /Da minha ebriedade, /Espalhai os vapores do incenso, /E enterrai-me sob a vinha, /Morto e para sempre esquecido, em seu nome, /Enrolai-me na mortalha, /Tal é o meu desejo, filho do cacho, /Fazei das suas filhas o meu sudário, /E a memória da sua aurora me ilumina. /Francamente, cavai a minha cova /Com as flechas da errância perfurai o meu corpo, /Eu amo-o e, com paixão, me ama, /A ele me sacrifico, eu que me esgotei /A cheirar o odor que dele exala, /É ele a alma que anima o meu corpo, /Em mim, os seus eflúvios circulam. /Não nadeis [pois] entre nós: afogar-vos-íeis. /Velai sobre o nosso mar, eu disse que o amo, /Para sempre, e ele também me ama, /Eu sou o seu ocidente, o seu oriente, /Sou eu quem o ilumina, quem ele atinge nos seus desfiles, /É ele, de facto, a própria verdade, /Se vísseis como ele se aproxima /Quando capitulais, à hora da oração, /A nossa união apagou a nossa dualidade, /E assim o meu mistério, o meu segredo se dissipou.”

Abu Madyan foi, no século XII, um dos fundadores do sufismo magrebino e andaluz. Discípulo de Al Ghazali e reconhecido por Ibn Arabi como o “Mestre dos Mestres”, este estudante sevilhano, iniciou-se naquela corrente mística do islão já em solo africano, para se tornar num dos mais importantes sábios e poetas sufi. O poema que se acabou de ler é de um misticismo transgressivo fora do comum, pois ainda que os estados de transe e de desregramento dos sentidos façam parte das práticas sufis, não deixa de ser surpreendente o elogio de uma bebida normalmente proibida pelo islão. Mas a ebriedade bem real do vinho adquire um valor metafórico de hierofania pelo seu contexto religioso e de oração, onde o despojamento de tudo o resto é fundamental para a entrega total ao divino, a invisível e secreta presença de Deus.
O sufismo é definido precisamente como sendo a ciência cujo objectivo é a ablução espiritual do coração para o desviar de tudo o resto em dedicação exclusiva a Deus. Uma corrente ascética do islão que cultiva o amor e o conhecimento divinos através da oração e de outros rituais que incluem danças e música pelos quais acreditam chegar mais perto da presença de Deus e idealmente entrar em comunhão com Ele. A música que escutamos pertence a uma cerimónia da ordem Mevelevi, uma ordem Sufi nascida naquilo a que hoje chamamos Turquia, à qual pertencem os famosos dervixes rodopiantes. É precisamente na “sema”, vertente musical e coreográfica do “dhirk”, ritual assente na repetição dos nomes de Deus, que vemos os dervixes rodopiarem sobre si mesmos, entrando num transe meditativo que os liberta dos desejos egóicos, ao concentrarem-se na música e nos nomes de Deus, permitindo-lhes assim chegar mais perto de Deus e atingir a “perfeição” (kemal).

Suomisaundi


Toca o telefone com um eco intestinal e Tinky Winky enfia a sua mão lilás no ecrã abdominal catódico para puxar o auscultador e atender a chamada. Ao reconhecer o interlocutor, reage com uma feliz e divertida gargalhada, pois era a sua prima Françoise que lhe anunciava uma festa que preparava na floresta e queria que todos se juntassem a ela na sua terra, Suomiland, para nela participar. Todos ficaram muito felizes e concordaram em ir, excepto Noo-Noo que se irritou com a situação, esticou a sua tromba de poliestireno e sugou os brinquedos dos outros Tubbies, pois por nenhuma razão queria abandonar o Tubbytronic Superdome. O sol-bebé anuiu com a sua gargalhada satisfeita e os quatro amigos multicolores partiram para a terra de Texas Faggott. Lá, beberam o típico “Spuge” de Helsínquia, um absinto esverdeado próximo da urina de fada e passado pouco tempo sentiram os seus bum-buns a abanarem ao ritmo esquizóide dos arpégios do TB-303, atravessados pelas disfunções calculadas dos VST de Pelinpala. Luzes, átomos e moléculas confundiam os seus tubos infra-abdominais forçando-os a libertar puns electrónicos de diversas cores e estilos: elfos com o sotaque de Bugs Bunny e trolls, iluminados por medusas cor-de-rosa produzidas pelo orvalho do lago, trançando elegantemente com as suas antenas multiformes.



Esta poderia muito bem ser a cosmogonia, o mito das origens, do subgénero do trance psicadélico oriundo da Finlândia a que alguns chamam Suomisaundi, outros Suomistyge e ainda Spugedelic Trance. Este som Suomi nasceu na segunda metade dos anos 90, aparentemente, de uma repulsa vigorosa do “tuubi” trance, ou seja, de tudo aquilo que não era suomisoundi. Nessa medida, distingue-se precisamente do trance psicadélico mais mainstream, não respeitando as suas convenções mais apertadas, chegando a desafiar mesmo, por vezes, a omnipresença das batidas quatro por quatro. As suas melodias são simples e jocosas, lembrando de certa forma o Happycore, mas distinguindo-se sobretudo pelo uso e abuso de efeitos e samplagens excêntricas que agudizam ao extremo a semântica e a pragmática do psicadélico dentro do Psy-Trance. Obviamente, a linguagem deste subgénero é tipificada pelo humor idiomático dos finlandeses e pela sua desconcertante auto-ironia, que reveste estas músicas de um carácter muito próprio. Mas, não obstante a sua origem nacional, em meados desta primeira década do século XXI, o estilo internacionalizou-se, sendo muito popular na Austrália, Nova-Zelândia e Japão – e, por isso, quase se poderia dizer que a sua excentricidade não é apenas estilística mas também geográfica, tendo a sua força centrífuga afastado este tipo de trance da hegemonia da Europa ocidental.



Neste Pulsar Ciclotímico do Amola-Tesouras, escutou-se um dos projectos fundadores do estilo, Pelinpala, um dos muitos de Tommi Sirkiä, conhecido ainda como Justin Space, importante produtor da música electrónica finlandesa e um dos responsáveis pela internacionalização do estilo nas suas constantes viagens pelo planeta. Filho de um cantor de ópera célebre na Finlândia e com formação musical erudita e ligada ao jazz, ter-se-á habituado a uma cultura sonora ecléctica que muito evidentemente exprime nas suas composições, como na faixa “Jazz Caballero” que também se escutou e que, tal como “Lights, Atoms and Molecules” que escutámos, pertence ao álbum de 2000, “My CD has landed on the next door neighbour’s dog”. Outro dos projectos mais extravagantes deste Suomisaundi é Texas Faggott, inicialmente protagonizado por Françoise Faggott, Tim Thick e Halluciano Powerotti, até que o primeiro (sim, Françoise é um moço) saiu para formar os Squaremeat. “Don’t gowithem, growithem n’glowithem, they’ll let you knowithem” é o tema de Texas Faggott incluído na compilação editada em 2000 pela Surreal Audio, “Beats and Beyond” que se escutou ainda depois de “Jazz Caballero”. Diga-se ainda que estes Texas Faggott, reduzidos a dois membros, continuam a ter bastante sucesso e ainda em 2008 editaram o seu álbum Kininigin, de onde se destacou a faixa “Asagao”, com a colaboração de Kakushin Nishihara, um famoso intérprete do tradicional instrumento japonês, a Biwa.

Killing Joke?


Em plena segunda guerra mundial, na calma e pacata localidade de Finchley, Ernest Scribbler, escritor de anedotas, acaba de criar a anedota mais engraçada de sempre e, ao admirar a sua obra-prima, prontamente cai por terra moribundo de tanto rir. Ao entrar no escritório de Ernst, a sua mãe depara-se com o cadáver do filho e junto dele um pequeno papel que pensa tratar-se de uma nota de suicídio. O horror rapidamente dá lugar a uma gargalhada histérica e a senhora torna-se assim a segunda vítima da "killer joke", um pedaço de prosa humorística que, depois de mil e uma peripécias, acaba por ajudar os britânicos a ganhar o conflito a uns germânicos desbaratados e incapazes de encontrar uma reposta condigna para tal arma de destruição maciça.

Difundido pela primeira vez na televisão a 5 de Outubro de 1969, no programa Monty Python's Flying Circus, o sketch "The Funniest Joke In The World" pouca ou nenhuma relação terá com os Killing Joke, grupo formado 10 anos mais tarde em Notting Hill por Jaz Coleman, "Big" Paul Fergusson, Kevin "Geordie" Walker e Martin "Youth" Glover. Ambos partilham, contudo, uma associação directa ou indirecta a movimentos psicadélicos contraculturais separados no tempo por mais de 20 anos, no caso dos primeiros a psicadélia dos anos 60, no caso dos segundos o trance da década de 90. Embora o programa sobre os Killing Joke se debruçe essencialmente sobre a sua influência na definição do psytrance, com a fundação das editoras Butterfly e Dragonfly e as remisturas de temas do grupo por projectos como Hallucinogen ou The Orb, iremos também viajar um pouco até ao passado, aos primórdios do grupo, onde já se adivinhava o germinar das sementes psicadélicas por entre os discos post-punk e new-wave da década de 80. Aliás, um desses discos, "Revelations", contava mesmo com a participação de Konrad Plank, mítico produtor alemão que ajudou a definir o krautrock e a kosmische musik. A banda sonora foi a seguinte:

Killing Joke - "Requiem" (Killing Joke)
Killing Joke - "Wardance" (Killing Joke)
Killing Joke - "Follow The Leaders" (What's THIS For...!)
Killing Joke - "Sun Goes Down" (Wilful Days) produced by Killing Joke & Konrad Plank
Killing Joke - "Mathematics Of Chaos" (Pandemonium)
Killing Joke - "Democracy - Hallucinogen Mix" (Democracy single)
Killing Joke - "Drug - Black Sun Mix" (Alchemy - The Remixes)
Killing Joke - "Pandemonium - A Thread Of Steel In The Suspension Bridge Of Time & Space Mix" (Pandemonium In Dub)

Para ouvir em podcast carregar aqui...

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Santos da Casa On Acid

No dia 28 de Maio de 2009, os Santos da Casa resolveram contabilizar algumas horas extra, permanecendo no estúdio da Rádio Universidade de Coimbra após o seu programa diário, para polinizarem o temporalmente contíguo Laboratório Chimico com os germes lusitanos. Fausto Silva e Nuno Ávila trouxeram na mala dos discos alguns dos exemplares do psicadelismo português, desde as origens na década de 6o do século XX até à contemporaneidade, sintetizando uma matéria complexa através das seguintes escolhas:

Quarteto 1111 - "A Fuga Dos Grilos" (Quarteto 1111)
José Cid - "Mellotron O Planeta Fantástico" (10.000 Anos Depois Entre Vénus e Marte)
Anar Band - "Mandrake" (Anar Band)
Jets - "Let Me Live My Life" (Biografia do Pop Rock)
Pop Five Music Incorporated - "Black Bird" (Odisseia Obra Completa 1968-72)
Chinchilas - "I'm A Believer" (Biografia do Pop Rock)
Tantra - "À Beira Do Fim" (Mistérios e Maravilhas)
Forgotten Suns - "Dreaming Of Reality" (Snooze)
Pop Dell'Arte - "Poema Para Noiva Circular Em Betão Armado Plástico Cor-De-Rosa Com Rádio Digital Programado Em FM" (Arriba! Avanti)
João Peste & Acidoxibordel - "Cocaine, Amigo" (João Peste & Acidoxibordel)
The Rising Sun Experience - "Manflag" (Under The Same Sun)
Black Bombaim - "Deuces Wild" (Black Bombaim)

Hiperligações:
Santos da Casa

Podcast:
Este programa pode ser escutado aqui