Cerca de 25 pessoas puderam assistir às actuações deste grupo no seu contexto milenar. Os três dias em Joujouka foram passados na companhia dos músicos, que partilharam as suas casas e refeições. O sentimento de "invasão" a um contexto estranho que inevitavelmente surgia era diluído pela contemplação e atenuado pelos efeitos também invasivos de horas ininterruptas de audição da música do grupo. As pessoas responsáveis pela organização do festival deslocam-se há 15 anos a Joujouka, desenvolvendo uma relação próxima com a comunidade local, assegurando a edição de discos e livros que documentam o legado artístico do grupo. São entusiastas da cena beat que foram seguindo o rasto dos seus nomes. Organizam também esporádicas digressões fora de Marrocos - o grupo mantém a tradição de actuar nalguns eventos, como casamentos ou celebrações religiosas -, como a passagem por Portugal em Abril de 2006 para concerto na Casa da Música. Mas a polémica não está arredada da bucólica aldeia: existem "outros" Master Musicians of Joujouka, liderados por Bachir Attar (passaram por Portugal no verão de 2005, em Sines) e que não fazem parte da comunidade de Joujouka nem da irmandade sufi preconizada pelos locais (somente Attar tocou com os músicos); um diferendo entre Attar e a comunidade local levou a que aquele trilhasse outros caminhos, liderando um grupo de músicos que mantém a sua actividade fora de Joujouka.
As actuações dos músicos começavam pela manhã e estendiam-se até à noite por longas horas com escassas pausas. Pela aldeia ecoam os padrões rítmicos, tímbricos e melódicos em sequências drone intermináveis, em parte explicados pela técnica da respiração circular utilizada pelos músicos. O volume sonoro impressiona, levando o melómano a questionar-se se uma
amplificação eléctrica teria efeitos tão poderosos quanto a acústica emenada das rhaitas, liras (os instrumentos de sopro, de cano duplo), tebel e tarija (os instrumentos de percussão, revestidos em pele de cabra e percutidos em ambas as faces), tornando a experiência auditiva uma performance onde a resistência física e a imersão dos sentidos caminham lado a lado, relembrando o potencial curativo e profundamente espiritual que acompanha a tradição musical de Joujouka. A assistência incluía os habitantes da aldeia e os visitantes, que ocupavam o chão da tenda situada num terraço que é o recanto dos músicos.
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