Desde os anos 50 do século passado que Joujouka e os seus mestres músicos gozam de grande influência na música ocidental. Nomes maiores da Beat Generation (Brion Gysin, William Burroughs, entre outros) foram atraídos até à aldeia do Al Shrif marroquino pelos ritmos hipnóticos indutores de estados alterados da consciência, criando condições para que nomes como Brion Jones, Timothy Leary, Ornette Coleman ou Lee Renaldo por lá igualmente passassem. Brion Jones deixou mesmo um legado que ainda hoje é a imagem de marca da aldeia e dos seus músicos, ao gravar em 1968 "Brion Jones presents de Pipes of Pan at Jajouka".
Cerca de 25 pessoas puderam assistir às actuações deste grupo no seu contexto milenar. Os três dias em Joujouka foram passados na companhia dos músicos, que partilharam as suas casas e refeições. O sentimento de "invasão" a um contexto estranho que inevitavelmente surgia era diluído pela contemplação e atenuado pelos efeitos também invasivos de horas ininterruptas de audição da música do grupo. As pessoas responsáveis pela organização do festival deslocam-se há 15 anos a Joujouka, desenvolvendo uma relação próxima com a comunidade local, assegurando a edição de discos e livros que documentam o legado artístico do grupo. São entusiastas da cena beat que foram seguindo o rasto dos seus nomes. Organizam também esporádicas digressões fora de Marrocos - o grupo mantém a tradição de actuar nalguns eventos, como casamentos ou celebrações religiosas -, como a passagem por Portugal em Abril de 2006 para concerto na Casa da Música. Mas a polémica não está arredada da bucólica aldeia: existem "outros" Master Musicians of Joujouka, liderados por Bachir Attar (passaram por Portugal no verão de 2005, em Sines) e que não fazem parte da comunidade de Joujouka nem da irmandade sufi preconizada pelos locais (somente Attar tocou com os músicos); um diferendo entre Attar e a comunidade local levou a que aquele trilhasse outros caminhos, liderando um grupo de músicos que mantém a sua actividade fora de Joujouka.
As actuações dos músicos começavam pela manhã e estendiam-se até à noite por longas horas com escassas pausas. Pela aldeia ecoam os padrões rítmicos, tímbricos e melódicos em sequências drone intermináveis, em parte explicados pela técnica da respiração circular utilizada pelos músicos. O volume sonoro impressiona, levando o melómano a questionar-se se uma amplificação eléctrica teria efeitos tão poderosos quanto a acústica emenada das rhaitas, liras (os instrumentos de sopro, de cano duplo), tebel e tarija (os instrumentos de percussão, revestidos em pele de cabra e percutidos em ambas as faces), tornando a experiência auditiva uma performance onde a resistência física e a imersão dos sentidos caminham lado a lado, relembrando o potencial curativo e profundamente espiritual que acompanha a tradição musical de Joujouka. A assistência incluía os habitantes da aldeia e os visitantes, que ocupavam o chão da tenda situada num terraço que é o recanto dos músicos.
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