"Do You want to dance and blow Your mind with the Exploding Plastic Inevitable?!!", dizia um anúncio publicado no The Village Voice, no início de Abril de 1966. Prometia ainda "música ao vivo, dança, ultra-sons, visões, jogos de luzes, comida, celebridades e filmes. TUDO NO MESMO LUGAR AO MESMO TEMPO". Este evento multimédia iria acontecer no Polsky Dom Narodny, um salão, na East Village em Nova York, destinado normalmente à organização de casamentos polacos e outras festas da comunidade imigrante. Andy Warhol, também ele filho de imigrantes de leste, alugara o espaço, durante esse mês de Abril, para aí inaugurar um espectáculo que incluía a projecção simultânea de vários filmes seus - Vinyl, Eat, Sleep, Kiss e Harlot - slides com padrões abstractos, efeitos de luzes estroboscópicos, a famosa "whip dance" de Gerard Malanga e o concerto de uma jovem e ainda desconhecida banda, apadrinhada pelo rei da Pop Art, os The Velvet Underground & Nico. Esta performance intermédia, que recebeu o nome sensacionalista "Exploding Plastic Inevitable" [depois de ter tido o nome Up-Tight e Erupting Plastic Inevitable], não era a única do género naquela época, mas como afirmou o cineasta experimental Jonas Mekas, terá sido a que de forma "mais violenta, ruidosa e dinâmica" explorava essa nova arte performativa e ambiental.
Desde os inícios da década de 50 que, na costa oeste, se podia assistir a concertos de Jazz ou a sessões de poesia "beat", onde eram projectadas luzes de várias cores, por vezes filtradas através de slides com padrões geométricos ou mesmo, a partir de dado momento, de lâminas com tintas a óleo que transformavam o espaço de modo mais dinâmico. Os espectáculos de luzes tornaram-se cada vez mais frequentes, sobretudo durante os concertos dessa nova música psicadélica que se expandia na América de meados dos anos 60, onde elas contribuíam para aproximar a experiência estética desses eventos musicais dos estados alterados da percepção, ao bombardear os sentidos com explosões de formas, sons e cores. Bill Ham and The Light Sound Dimension, Glenn McKay's Headlights, the Brotherhood of Light ou os mais profissionais Joshua Light Show eram presenças essenciais em qualquer evento desta nova cultura intoxicante e intoxicada que alastrava da costa oeste até à costa leste. A partir de 1965, clubes nocturnos em Nova York, como o Cheetah ou o Electric Circus, proporcionavam, não só este tipo de entretenimento, como lhe acrescentavam uma dimensão mais cerebral e artística com a projecção de imagens, excertos de filmes, circuitos fechados de video ou mesmo actores e bailarinos em happenings que lhes davam um outro tipo de sofisticação.
Havia, porém, algo de diferente nas noites orquestradas por Andy Warhol e pelos seres alienígenas da Factory. O sentido de liberdade e comunhão com o todo que animava os eventos hippies da Califórnia era substituído por uma cínica distância e um narcisismo brutal que separava os que ali se exibiam. À inocência do "flower power" opunha-se a decadência "dandy" das "Flores do Mal" e à esperança numa revolução redentora respondia um angustiado niilismo. Tudo isto se cruzava na experiência ensurdecedora de uns Velvet Underground a tocarem de costas voltadas para o público, com a voz andrógina da sua überchanteuse, Nico, a cantar "I'll be Your mirror" ou "Femme Fatale" e o bailado sado-masoquista de Gerard Malanga e Mary Woronov, iluminado pelas luzes estroboscópicas e os padrões Op Art que já não reproduziam tanto os efeitos do LSD como o egotismo insuflado pela heroína e pelas anfetaminas. Em plena revolução hippie, Exploding Plastic Inevitable anunciava já o desespero do punk.
[O filme de Ronald Nameth sobre o Exploding Plastic Inevitable, 1967. 2ª parte, aqui.]
Sobre Andy Warhol e a Factory nos anos 60, com muita informação e documentos de arquivo, o site de Steven Watson, autor de Factory Made: Warhol and the Sixties.
Sobre the Exploding Plastic Inevitable, o fac-símile do nº 3 da revista Aspen, publicada em Dezembro de 1966.
Ver ainda o vídeo de Jonas Mekas sobre Andy Warhol com imagens das primeiras performances de Velvet Underground e do EPI.
Desde os inícios da década de 50 que, na costa oeste, se podia assistir a concertos de Jazz ou a sessões de poesia "beat", onde eram projectadas luzes de várias cores, por vezes filtradas através de slides com padrões geométricos ou mesmo, a partir de dado momento, de lâminas com tintas a óleo que transformavam o espaço de modo mais dinâmico. Os espectáculos de luzes tornaram-se cada vez mais frequentes, sobretudo durante os concertos dessa nova música psicadélica que se expandia na América de meados dos anos 60, onde elas contribuíam para aproximar a experiência estética desses eventos musicais dos estados alterados da percepção, ao bombardear os sentidos com explosões de formas, sons e cores. Bill Ham and The Light Sound Dimension, Glenn McKay's Headlights, the Brotherhood of Light ou os mais profissionais Joshua Light Show eram presenças essenciais em qualquer evento desta nova cultura intoxicante e intoxicada que alastrava da costa oeste até à costa leste. A partir de 1965, clubes nocturnos em Nova York, como o Cheetah ou o Electric Circus, proporcionavam, não só este tipo de entretenimento, como lhe acrescentavam uma dimensão mais cerebral e artística com a projecção de imagens, excertos de filmes, circuitos fechados de video ou mesmo actores e bailarinos em happenings que lhes davam um outro tipo de sofisticação.
Havia, porém, algo de diferente nas noites orquestradas por Andy Warhol e pelos seres alienígenas da Factory. O sentido de liberdade e comunhão com o todo que animava os eventos hippies da Califórnia era substituído por uma cínica distância e um narcisismo brutal que separava os que ali se exibiam. À inocência do "flower power" opunha-se a decadência "dandy" das "Flores do Mal" e à esperança numa revolução redentora respondia um angustiado niilismo. Tudo isto se cruzava na experiência ensurdecedora de uns Velvet Underground a tocarem de costas voltadas para o público, com a voz andrógina da sua überchanteuse, Nico, a cantar "I'll be Your mirror" ou "Femme Fatale" e o bailado sado-masoquista de Gerard Malanga e Mary Woronov, iluminado pelas luzes estroboscópicas e os padrões Op Art que já não reproduziam tanto os efeitos do LSD como o egotismo insuflado pela heroína e pelas anfetaminas. Em plena revolução hippie, Exploding Plastic Inevitable anunciava já o desespero do punk.
[O filme de Ronald Nameth sobre o Exploding Plastic Inevitable, 1967. 2ª parte, aqui.]
Sobre Andy Warhol e a Factory nos anos 60, com muita informação e documentos de arquivo, o site de Steven Watson, autor de Factory Made: Warhol and the Sixties.
Sobre the Exploding Plastic Inevitable, o fac-símile do nº 3 da revista Aspen, publicada em Dezembro de 1966.
Ver ainda o vídeo de Jonas Mekas sobre Andy Warhol com imagens das primeiras performances de Velvet Underground e do EPI.
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