Takeshi Terauchi & The Bunnys - "Tsugaru Jongarabushi" (Bunnys Singles 1)
The Shadows - "Wonderful Land" (20 Golden Greats)
The Shadows - "Man Of Mystery" (20 Golden Greats)
The Shadows - "Apache" (20 Golden Greats)
The Shadows - "FBI" (20 Golden Greats)
The Ventures - "The Lonely Bull" (Play Telstar/The Lonely Bull)
The Ventures - "Introduction" (Live In Japan 1965)
The Ventures - "The Cruel Se"a (Live In Japan 1965)
The Ventures - "Rap City (Brahms' 'Hungarian Dance No.5')" (Live In Japan 1965)
The Ventures - "The Ventures Medley (Walk Don't Run/Lullaby Of The Leaves/Perfidia)" (Live In Japan 1965)
Takeshi Terauchi & The Bunnys - "Kanjincho" (Bunnys Singles 1)
Takeshi Terauchi & The Bunnys - "Dark Eyes" (Bunnys Singles 1)
Takeshi Terauchi & The Bunnys - "Misirlou" (Bunnys Singles 1)
Yuzo Kayama & The Launchers - "Dedicated" (Exciting Sounds Of Yuzo Kayama And The Launchers)
The Mops - "White Rabbit" (Psychedelic Sounds In Japan)
The Golden Cups - "Shotgun" (Abum Vol.2)
The Golden Cups - "Untitled 13" (Album Vol.2)
Bill Bisset & The Mandan Massacre - "My Mouths On Fire" (Awake In The Red Desert)
Bill Bisset & The Mandan Massacre - "2 Awake In Th Red Desert" (Awake In The Red Desert)
Bill Bisset & The Mandan Massacre - "Now According To Paragraph C" (Awake In The Red Desert)
Bill Bisset & The Mandan Massacre - "Yu Sing" (Awake In The Red Desert)
Bill Bisset & The Mandan Massacre - "Arbutus Garden Apts. 6p.M." (Awake In The Red Desert)
Mas esta contribuição não deixa de criar alguma perplexidade para aqueles mais informados quanto às posições conservadoras em relação ao consumo de substâncias do governo japonês, da população em geral, e mesmo de algumas das figuras de proa do movimento psicadélico nipónico. É que enquanto a música psicadélica ocidental se encontra indelevelmente associada ao consumo de drogas e a estados alterados de consciência, no oriente as coisas foram e são um pouco diferentes. Os músicos japoneses procuram essencialmente criar e produzir música que tenha um efeito no ouvinte semelhante àquele induzido por psicotrópicos, e para atingir este fim o composto musical tem vindo a ser refinado ao longo dos tempos e das gerações, razão pela qual será legítimo perguntarmos “mas afinal onde é que tudo começou?”.
A história da música psicadélica no Japão encontra-se intimamente conectada a dois elementos basilares: a ocidentalização decorrente do período de ocupação pelas forças armadas americanas e o “milagre” económico operado no pós-guerra, bastante semelhante ao wirstschaftswunder alemão. As novas gerações japonesas ansiosas por experimentar um novo mundo trazido na bagagem pelos soldados do novo mundo, acolheram o rock’n’roll de braços abertos, mas inflamados pela sua idiossincrática cultura milenar, fundada em séculos de isolação auto-imposta, assimilaram, metabolizaram e expeliram dois novos géneros que, embora tendo raízes ocidentais, são na sua essência japoneses: o “eleki” e o “group sounds”.
Se bem que a maior parte dos músicos contemporâneos supracitados descarte ambos os fenómenos como irrelevantes e perfeitamente descartáveis, em consonância com ambiente consumista e superficial em que floresceram, quando o espectro de análise é reduzido à cultura popular e de massas, o “eleki” e o “group sounds” constituem os antecedentes mais relevantes do psicadelismo nipónico. E justiça lhes seja feita. Se no plano musical não têm a oferecer nada de novo, estes fenómenos são um verdadeiro tesouro sociológico do Japão moderno, um registo inequívoco da forma como os seus habitantes lidam com a importação de cultura, fazendo-a parecer ainda mais original do que o próprio original, e criando algo completamente novo, único e refrescante através da cópia descarada.
Mas retomemos a nossa pequena história. Durante os anos da ressurgência do Japão como potência económica e financeira, com uma população endinheirada que se podia dar ao luxo de comprar desde os carros e câmaras fotográficas de origem nacional, até às guitarras eléctricas de origem ocidental, o rock’n’roll atravessava um período crítico, com o afastamento de cena de Elvis devido ao serviço militar obrigatório, o encarceramento de Chuck Berry, e a queda em desgraça de Jerry Lee Lewis. Neste contexto de descrença nas figuras maiores do rock, o mundo em geral, e o Japão em particular, viraram-se para os grupos instrumentais, que faziam uso e abuso das novíssimas guitarras eléctricas saídas dos estábulos da Fender, da Gibson, e da Mosrite. Os primeiros a atingirem o estatuto estelar no oriente foram precisamente os The Shadows, que acabariam por ver “Apache”, um original de Hank Marvin & Co., ser revisitado por Jimmie Tokita & His Mountain Playboys e dar origem a uma das maiores obsessões musicais japonesas: o “eleki”. O fenómeno “eleki”, que literalmente significa “eléctrico”, atingiu o Japão em finais dos anos 1950, alterando por completo a sua toponímia musical, até então dominada pela música tradicional e por baladas em formato de inócuo xarope para a tosse. Algo de novo se perfilhava no horizonte. Algo de inquietante mas ao mesmo tempo moderno e revolucionário. A nomenclatura adoptada traduzia os elementos dessa nova música: a reificação do género instrumental, relegando para segundo plano as letras melosas de outrora, e a glorificação da guitarra eléctrica como ferramenta indispensável ao labor do músico moderno. Numa única palavra “eleki”.
Os The Shadows atingiram os píncaros das tabelas de vendas um pouco por todo o mundo, com temas como “FBI”, “Frightened City” ou “Kon-Tiki”, popularizando o instrumental de guitarra como panaceia universal para o rock moribundo. A sua recepção no Japão não foi menos entusiástica do que noutras partes do globo, mas apesar do seu sucesso foi um quarteto originário de Tacoma que cativou o imaginário japonês de tal forma que, ainda hoje em dia, gozam de um culto notável naquele país: os The Ventures. Os motivos por detrás desta adulação não serão assim tão estranhos ou bizarros a um olhar mais cuidado. Quatro figuras inexpressivas e imóveis num palco cuidadosamente minimalista, com uma execução maquinal ultra-eficiente, os The Ventures antecipavam em vários aspectos os germânicos Kraftwerk, e inflamavam os corações dos perfeccionistas japoneses, os quais foram dos poucos povos onde as obsessivas políticas da qualidade de Juran ou Deming obtiveram sucesso. A adoração que foi votada aos The Ventures começou durante uma visita ao Japão em 1962, como grupo de suporte, e atingiu o seu auge durante uma digressão como cabeças de cartaz em 1965, a qual ficou registada para a posteridade no álbum “Live in Japan 1965”.
De entre os músicos que ajudaram a definir o som “eleki” destaca-se Takeshi Terauchi, ou na sua versão anglicizada Terry, que, acompanhado pelos Blue Jeans, elevou o instrumental a níveis nunca sonhados no ocidente. O seu golpe de génio não foi, contudo, o exponenciar dos caracteres dos seus comparsas ocidentais, já de si um feito notável, mas antes a inclusão de instrumentos tradicionais japoneses e a gravação de versões de músicas tradicionais, como o intemporal “Kanjucho / Genroku Hanami Odiri”, que agradavam a gregos e a troianos, isto é, às gerações mais novas e às mais idosas. Nos anos do “eleki” outras figuras despontaram, tais como Jimmy Takeushi e os seus The Exciters ou Yuya Uchida, uma personagem omnipresente no rock japonês que viria, anos mais tarde, a formar os Flowers, que por sua vez dariam origem aos Flower Travellin Band.
Para além de uma estrutura musical facilmente identificável, o estilo “eleki” traduzia ainda o gosto, ou melhor obsessão, dos japoneses por filmes de espiões, por surf, e pelo mundo motorizado. Exemplos disso são “Squad Car” e “King Of Surf Guitar”de Terauchi, “GTO” e “On The Beach” dos The Three Funkys, ou ainda “Ride The Wild Surf” dos Spacemen. Num ambiente em que tudo parecia válido houve ainda espaço para versões de temas populares no ocidente como “Misirlou” e reinvenções de música clássica como “Symphony No.5”, ambos pelos Bunnys, outro dos grupos de suporte de Takeshi Terauchi.
Com o “eleki” aparecem concomitantemente os idoru ou ídolos, músicos com uma exposição mediática sem precedentes, e que no seu conjunto eram um verdadeiro panteão de divindades com uma influência ilimitada sobre os seus devotos, mas limitada às ilhas japonesas, pois no ocidente ninguém fazia ideia de quem eram. Nessa altura surgem igualmente os filmes de exploração dos movimentos juvenis, cujos actores principais eram esses mesmos idoru, e cujas similaridades com as películas protagonizadas pelos Beatles ou por Elvis são evidentes, e o aparecimento de programas televisivos como o Hit Parade. Basicamente, estes programas de divulgação musical eram um prolongamento dos tentáculos das editoras discográficas que procuravam assim capitalizar os efeitos da inovação mais revolucionária no domínio da comunicação de massas: a televisão. Um dos apresentadores desses espectáculos televisivos era o idoru Yuzo Kayama, músico “eleki” que assegurou as primeiras partes dos concertos dos Ventures no Japão em 1965, e que no final da digressão recebeu a honra de ser presenteado com uma das Mosrite especialmente desenhadas para os norte-americanos. A população seguia avidamente estas emissões, não sendo pois de estranhar que tenha sido nos estúdios televisivos que surgiu o fenómeno que iria suceder ao “eleki”.
Num clima ensombrado pela iminente invasão britânica, que já se fazia sentir nos Estados Unidos e que viria a tomar de assalto o Japão, Yuzo Kayama entrevistava Yoshikawa, baterista dos Blue Comets e, assumindo uma postura provocadora, questionava-o quanto ao sentido que faria no Japão o rock’n’roll, já que a esmagadora maioria da população nem sequer era capaz de pronunciar correctamente o nome do género musical pelo qual se havia apaixonado nos últimos anos. Yoshikawa admitiu a dificuldade que ele próprio sentia na pronunciação, mas operando uma inversão dos papéis entrevistador-entrevistado, questiona Yuzo Kayama sobre que nome deveria então ser atribuído a uma cena musical cujo emergir era inevitável e imparável. Kayama pára por uns momentos, reflecte, e responde: “e porque não chamar a esta música ‘group sounds’?”.
No curto espaço de um mês o público abraçou esta nova moda como se fosse a única que alguma vez tivesse existido, e bandas como os The Mops, The Jacks ou The Golden Cups, assumiram o protagonismo. Os vocalistas voltaram a ser uma mais valia, e as versões de músicas ocidentais que os novos grupos japoneses gravavam reflectiam as influências que se faziam sentir, na sua maior parte imanentes da costa leste dos Estados Unidos. Em 1968 os The Mops gravam “Psychedelic Sounds in Japan”, e os The Golden Cups assumiam atitudes, tais como snifar cola, muito diferentes do mecanicismo e estereotipia “eleki”. Este era contudo um movimento completamente controlado pelos grandes gigantes corporativos Watanabe Pro e Asuka Pro. Seria preciso esperar mais alguns anos pelos Taj Mahal Travellers e Takehisa Kosugi, pelo regresso do exílio na Grã-Bretanha de Yuya Uchida, por Keiji Haino e o seu colectivo de inspiração em Albert Ayler Lost Aaraaff, pelos Rallizes Denudés, Far East Family Band, e Magical Power Mako, para assistirmos ao verdadeiro descolar em direcção ao cosmos infinito da música psicadélica japonesa.
Documentário sobre a digressão dos The Ventures no Japão em 1965: Parte 1, Parte 2, Parte 3, Parte 4
Download do disco de Takeshi Terauchi & The Bunnys intitulado "This is Terauchi Bushi":
1. Kanjinncyou 2. Sado Okwsa 3. Musume Doujyouji 4. Mamurogawa Ondo 5. Komuro Oiwake 6. Cyakiri Bushi 7. Genroku Hanami Odori 8. Noue Bushi 9. Hanagasa Ondo 10. Oedo Nihonbashi 11. Kazoe Uta 12. Tukuba Mountain
Mais informações sobre os vários grupos Eleki e Group Sounds no site Japrocksampler
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