“To be or not to be is not a question”: é o motto que gira com o vinil e não mais a pergunta existencial de Hamlet. Uma espécie de disjunção inclusiva resolvida pelas duas pedras de Zweistein a chocarem uma contra a outra, para produzir o fogo prometeico e prometido, à volta do qual a consciência se encandesce, meditando o século contemporâneo das paixões de Fausto e do enigma da Esfinge. Uma melodia simples, ritmos distantes, ecos de infância, redemoinhos oceânicos esculpidos na experiência sonora e geológica que anula a distância entre o subjectivo e o objectivo. Alucinação gnoseológica ou introspecção farmacodóxica? Ein, zwei, drei… Einstein, zweistein, dreistein… uma pedra, duas pedras, três discos…
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Na já mítica lista de Nurse With Wound, bem lá no fundo alfabeticamente ordenado encontramos Zweistein: um projecto obscuro, cujas histórias contraditórias, aliadas à natureza vanguardista e experimental da música, geraram um certo culto entre os amadores de bizarrias e fizeram subir o valor dos raros exemplares que se podem encontrar em vinil de Trip/Flip Out/Meditation, editado, estranhamente, pela Phillips em 1970 e re-editado já em 2007, em CD, pela japonesa Captain Trip Records. Trata-se de um triplo LP onde cada disco é dedicado a uma das três alegadas fases de uma “trip” psicadélica: o início da viagem, a inversão do mundo, das percepções e dos seus conceitos, para chegar à meditação. Construído a partir de colagens de paisagens sonoras, sons electrónicos e manipulações recheadas de efeitos de estúdio e estranhas vozes transformadas, o milagre alquímico e electro-acústico que aí se produz teve também, alegadamente, a mão de Peter Kramper, o engenheiro de som dos gigantes do kraut, Amon Düül. O nome é uma homenagem lúdica assumida ao génio da teoria da relatividade geral: depois de Einstein segue-se numericamente Zweistein, que na verdade significa em alemão “dois pedra”. Toda esta aventura discográfica e psicotrópica foi apresentada como sendo da autoria de um tal Jacques Dorian que afinal não era senão um pseudónimo de Suzanne Doucet, uma cantora pop e apresentadora de televisão alemã com vontade de fazer algo mais experimental mas que recorreu a um nome falso para que a experiência do kraut psicadélico não afectasse a sua carreira de cançonetista. A cantora gravou o álbum inteiro com a ajuda da sua meia-irmã, Diane Doucet, e certamente de algumas gramas do ácido lisérgico muito em voga na época. Para alguns, o álbum é uma mera perda de tempo, uma amálgama de sons sem direcção musical, para outros, um disco notável de experimentações e vanguardismos “kraut”, na esteira de Amon Düül ou dos Kluster de Conrad Schnitzler.
Seleccionámos um excerto do lado A do terceiro disco, “Point”: dedicado à fase meditativa da “trip”, o qual começa com uma fantasia atómica que explora sons electrónicos, derivando depois para uma atmosfera mais onírica que reporta a uma viagem de comboio pelas memórias de infância. Antes escutávamos um excerto de “a children’s golden dream”, do lado A do 2º disco, intitulado Wrong. O universo canta, mas nem sempre conseguimos ouvir as suas vozes. Uma canção simples é a que escutamos quando nos encontramos no limiar do micro e do macro-cosmos. Zweistein é o símbolo da superação das nossas limitações pelo alargamento da consciência otológica, quando o bico da pomba segredou o Verbo ao ventre.
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Na já mítica lista de Nurse With Wound, bem lá no fundo alfabeticamente ordenado encontramos Zweistein: um projecto obscuro, cujas histórias contraditórias, aliadas à natureza vanguardista e experimental da música, geraram um certo culto entre os amadores de bizarrias e fizeram subir o valor dos raros exemplares que se podem encontrar em vinil de Trip/Flip Out/Meditation, editado, estranhamente, pela Phillips em 1970 e re-editado já em 2007, em CD, pela japonesa Captain Trip Records. Trata-se de um triplo LP onde cada disco é dedicado a uma das três alegadas fases de uma “trip” psicadélica: o início da viagem, a inversão do mundo, das percepções e dos seus conceitos, para chegar à meditação. Construído a partir de colagens de paisagens sonoras, sons electrónicos e manipulações recheadas de efeitos de estúdio e estranhas vozes transformadas, o milagre alquímico e electro-acústico que aí se produz teve também, alegadamente, a mão de Peter Kramper, o engenheiro de som dos gigantes do kraut, Amon Düül. O nome é uma homenagem lúdica assumida ao génio da teoria da relatividade geral: depois de Einstein segue-se numericamente Zweistein, que na verdade significa em alemão “dois pedra”. Toda esta aventura discográfica e psicotrópica foi apresentada como sendo da autoria de um tal Jacques Dorian que afinal não era senão um pseudónimo de Suzanne Doucet, uma cantora pop e apresentadora de televisão alemã com vontade de fazer algo mais experimental mas que recorreu a um nome falso para que a experiência do kraut psicadélico não afectasse a sua carreira de cançonetista. A cantora gravou o álbum inteiro com a ajuda da sua meia-irmã, Diane Doucet, e certamente de algumas gramas do ácido lisérgico muito em voga na época. Para alguns, o álbum é uma mera perda de tempo, uma amálgama de sons sem direcção musical, para outros, um disco notável de experimentações e vanguardismos “kraut”, na esteira de Amon Düül ou dos Kluster de Conrad Schnitzler.
[COSMIC DANCE, criado por Suzanne Doucet & James Bell em 1985
- usando um Fairlight Video Synthesizer.]
- usando um Fairlight Video Synthesizer.]
Seleccionámos um excerto do lado A do terceiro disco, “Point”: dedicado à fase meditativa da “trip”, o qual começa com uma fantasia atómica que explora sons electrónicos, derivando depois para uma atmosfera mais onírica que reporta a uma viagem de comboio pelas memórias de infância. Antes escutávamos um excerto de “a children’s golden dream”, do lado A do 2º disco, intitulado Wrong. O universo canta, mas nem sempre conseguimos ouvir as suas vozes. Uma canção simples é a que escutamos quando nos encontramos no limiar do micro e do macro-cosmos. Zweistein é o símbolo da superação das nossas limitações pelo alargamento da consciência otológica, quando o bico da pomba segredou o Verbo ao ventre.
A tracklist do triplo LP original:
1. IN (19:52)
a) beginning
b) analysis of tune
c) to hear inside
d) a very simple song
2. OUT (16:59)
a) misty tour
b) water sound
c) television
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d) organ dreams (a very simple song)
3. WRONG (18:03)
a) children's golden dream
b) to become a child
c) children's golden dream
4. RIGHT (18:02)
a) everything returns
b) indian child
c) the theory of relativity
5. POINT (18:08)
a) atomical fantasy (electronic)
b) incarnation
c) childhood's church
d) life train
e) dream of love and death
f) atomical fantasy
6. CIRCLE (15:14)
a) verdi's soul born again
b) mind beat
c) himalaya's way
d) heaven bridge
e) out of time
f) atomical fade out
Para mais informações: Unmasking a Legend: Zweistein revealed
A página pessoal de Suzanne Doucet.
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