Visões na velha Albion

O Laboratorio Chimico de 18 de Feveriro foi dedicado a explorar alguma da música da Velha Albion, em particular as produções que durante a segunda metade da década de 60 e início de 70 compuseram o Folk Psicadélico Britânico.

Nesse período o folk britânico oscilava mais do que nunca entre a conservação das suas raízes pagãs e rurais, tentando perservar uma certa tradição oral emanada de um éden perdido, e a progressão através da assimilação do tráfico de influências rock e blues que chegavam da América e também de novos ritmos e instrumentos vindos do Oriente e do Norte de África. Estabeleceram-se assim pontes a unir o passado tradicional da canção britânica e as criações musicais modernas. Da ambivalência entre conservação e progressão, vivência rural e metropolitana, simplicidade e sofisticação, poder-se-á vislumbrar uma dimensão psicadélica neste limbo povoado por visões folk-rock, folk-ácido, free-folk, dark-folk ou weird-folk.

Cecil Sharp foi um dos pioneiros da preservação do folclore britânico, tentando incluir o folclore no panteão dos tesouros nacionais e levá-lo até aos currículos escolares dos petizes britânicos. Perseguiu a linhagem da genealogia da música britânica até aos Estados Unidos - onde mais tarde foram também Shirley Collins e Alan Lomax seguindo o rasto destas canções. Lomax, de resto, participou activamante nas Radio Ballads de Ewan MacColl e Peggy Seeger, programa de rádio que entre 1957 e 1964 foi transmitido pela BBC tentando traçar as rotas folk da memória colectiva britânica através da divulgação de canções, música instrumental e histórias de pessoas das franjas da sociedade.


São férteis os registos pastorais-trovadorescos que brotam dos bosques folk britânicos. Aliás, a psicadélia britânica não vivia somente do apelo lisérgico que as luzes estroboscópicas dos clubes londrinas emanavam, nem se regia pelos mesmas premissas do Summer of Love californiano ou da Swinging London: ligava-se ao passado e sintonizava-se nos seus ecos medievais e bucólicos em comunhão com a natureza, na busca de experiências em que o espírito se revela e da nostalgia dos prazeres intocados de um estado de inocência infantil.
A influência de outros filhos de Albion como Lewis Carrol, William Blake, John Milton ou John Keats sustentam este desejo de captar a aura pré-industrial perdida, habitada por um imaginário pagão que contempla a comunhão com a terra, com os deuses e com energias místicas e sobrenaturais.

Uma metáfora visual do folk inglês é o filme The Wicker Man, que Robin Hardy realizou em 1973. O filme é referido como uma influência seminal por vários grupos neo-folk actuais e é descrito como possuindo um nevoeiro pagão bem perceptível na sua banda-sonora, da responsabilidade de Paul Giovanni e os Magnet, uma banda formada para esse efeito, que criaram diversos temas com a ajuda das personagens do filme.


Durante o programa foi-se escutando:
Paul Giovanni & Magnet - Festival/Mirie It Is (The Wicker Man Original Soundtrack, 1998)
Shirley Collins & Davey Grahm - Blue Monk (Folk Roots, New Routes, 1964)
Shirley Collins - All Things Are Quite Silent (Fountain of Snow, 1992)
Tim Hart & Maddy Prior - The False Knight on the Road (Summer Solstice, 1972)
The Pantangle - Let no Man Steal Your Thyme (Solomon's Seal, 1972)
Mark Fry - The Witch (Dreaming With Alice, 1972)
The Incredible String Band - Three is a Green Crown (The Hangman´s Beatiful Daughter, 1968)
The Strawbs - Sheep (From the Witchwood, 1971)
Writting on The Wall - Buffalo (Buffalo, 1972)
Comus - Diana (First Utterance, 1970)
Paul Giovanni & Magnet - Maypole Song (The Wicker Man Original Soundtrack, 1998)


Algumas compilações que revêm o assunto:
Gather in the Mushrooms - The British Acid-Folk Underground 1968-1974 (Castle Music, 2004)
Early Morning Hush - Notes From The UK Folk Underground 1969-1976 (Sanctuary Records, 2006)
Anthems in Eden - An Anthology of British & Irish Folk 1955-1978 (Sanctuary Records, 2006)

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