Mas o destaque à música psicadélica portuguesa levou-nos a recuar até à década de 1960. Tal como um pouco por todo o lado, os primeiros passos do rock português assentaram na replicação (e, nalguns casos, no decalque) de sons e ritmos estrangeiros que conseguiam furar a cortina isolacionista da ditadura. Nessa época os portugueses estariam mais sensibilizados ao fado e à música ligeira, e o débil mercado discográfico raramente contemplava nomes internacionais, exceptuando alguns títulos espanhóis e franceses. Mas foi o rock and roll anglo-saxónico que mais agitou os jovens músicos portugueses. A sua popularização terá começado no final da década de 50, quando chegavam vindos do outro lado do Atlântico alguns discos, trazidos sobretudo por marinheiros, enquanto que nos cafés lisboetas podia dançar-se ao som das jukebox com hits de Bill Haley and the Comets, Little Richard ou Elvis Presley. Por essa altura o panorama musical português entretinha-se com o fado e com a música ligeira, mas começavam a aparecer nomes como Joaquim Costa (aka "Elvis de Campolide"), José Manuel Silva (aka "Baby Rock"), Vitor Gomes, ou José Cid.
Com a explosão, jé em plena década de 60, dos fenómenos The Beatles, The Rolling Stones e The Beach Boys, distribuidoras multinacionais chegam a Portugal. A satruração do mercado discográfico e os bolsos vazios dos jovens portugueses fez com que emergissem várias bandas ávidas por mimetizar esse "novo som" e fazer versões de temas internacionais para animar bailes e concursos, que nalguns casos tornar-se-iam mais conhecidos que os próprios originais, com forte cunho beat, garage e surf rock, numa moda que se estendeu até às ex-colónias. O Quarteto 1111 terá sido o mais proeminente grupo rock português desta época, tendo visto o seu primeiro álbum censurado e retirado do mercado. À medida que os ouvidos portugueses eram invadidos por Led Zeppelin, Deep Purple ou Jimi Hendrix, e que alguma contestação face à situação socio-cultural do país se agitava, alguns grupos musicais ganharam maior acutilância, introduzindo laivos de experimetalismo e psicadélia nas suas produções, a par de maior consciencalização política. Este aspecto, contudo, não adquiriu as proporções de outras paragens, e nunca se concretizou num "movimento" sustentado, ficando a energia revolucionária de costumes e atitudes atrofiada na plácida designação de música "yé-yé". As sementes estavam lançadas, e já na década de 1970 surgem projectos conotados com o rock progressivo que trilham caminhos psicadélicos, casos de Petrus Castrus, Plexus, José Cid ou Evolução.
Mas das vagas de emigração a que Portugal assistiu havia de sair uma excitante experiência auditiva, destacada no Laboratorio Chimico, ainda que decerto poucos tenham sido os que em 1969 tiveram acesso ao disco em terras de Salazar e Caetano. António e Fernando Lameirinhas, irmãos nascidos no Porto e que cedo emigraram para a Bélgica e Holanda, fizeram carreira musical enquanto Move ou Jess & James, versando ritmos beat e garage, que lhes valeu alguma visibilidade. Mas foi com projecto de versão única intitulado The Free Pop Electronic Concept que entraram para o extenso rol de preciosidades psych que de tempos a tempos são desenterradas do esquecimento para deleite do melómano. Certamente influenciados pela vertigem provocada pela audição de discos que juntavam o hedonismo pop-rock com o crescente acesso às técnicas de estúdio na produção - incorporando-o enquanto instrumento -, casos dos norte-americanos Fifty Foot Hose ou United States of America, ou dos jerks electrónicos com que Pierre Henry inundava o rock de Michel Colombier em Messe Pour les Temps Presents, os irmãos Lameirnhas juntaram-se a Scott Bradford (teclados) e a Stu Martin (bateria) e, acima de tudo, ao compositor belga Arsenne Souffrian (o responsável pelos efeitos de electrónica), para gravarem A New Exciting Experience, originalmente lançado em 1969 na Pallete (Bélgica) e na Ace of Clubs (Canadá). O desregramento sensorial que a adição de electrónica proporciona à estrutura maioritariamente pop do disco, confere-lhe a sugestão lisérgica em toada festiva e celebratória, que se agita por entre a experimentação sónica avulsa. A New Exciting Experience foi reeditado em 2008 pelo selo catalão Wha Wha Records, depois de o mesmo ter acontecido na espanhola Belter e na italiana Durium.
A 25 de Fevereiro ouviu-se:
E a 4 de Março:
Portuguese Nuggets Vol. 1: A Trip to 60´s Portuguese Beat, Surf and Garage:
Tártaros - Tartaria
Quinteto Académico - Train
Daniel Bacelar - Tema dos Gentleman
Conjunto Ruy Manuel -Fuga
Qarteto 1111 - Bissaide
Portuguese Nuggets Vol. 2:
Tártaros - Oh! Rosa Arredonda a Saia
Os Ekos - O Espelho
Os Vodkas - San Francisco Girls
Psychedelic Portugal: Hard Psych and Progressive Sounds From Portugal Underground Scene 1968 - 1974):
José Cid - A Viagem
Petrus Castros - Batucada Vulgaris
Plexus - Paraíso Amanhã
The Free Pop Electonic Concept (A New Exciting Experience, 1969)
Chewing Gum Delirium
Cosmos Rhythms
Theme no 1
Podcasts brevemente.
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