Desde muito cedo que as vivências internas dos grupos marginais de motoqueiros, cujo nascimento se pode situar algures na costa oeste dos Estados Unidos no final da década de 1940, e as relações problemáticas que mantinham com as pacatas comunidades suburbanas, foram apropriadas pela indústria cinematográfica, capitalizando o fascínio e temor que a classe média nutria por estes destruidores de civilizações.
O primeiro retrato fílmico - The Wild One - protagonizado por Marlon Brando surgiu logo em 1953, mas a verdadeira eclosão do género "Outlaw Biker Film" ocorreu no seguimento da atenção mediática votada aos míticos Hells Angels, retratados no livro de Hunter S. Thompson, "Hell's Angels: The Strange And Terrible Saga Of The Outlaw Motorcycle Gangs", editado em 1966. Dois anos antes, o grupo feminino The Shangri-las, conhecido pelas suas interpretações de melodramas adolescentes, gravavam "Leader Of The Pack", colhendo sucesso comercial instântaneo. Neste tema conhecemos a história de Betty, uma ingénua adolescente norte-americana que se enamora à primeira vista por Jimmy, cabecilha de um gangue de motoqueiros. Este encontro viria a revelar-se fatal para o rapaz, oriundo do "outro lado da cidade". Enclausurado entre a desaprovação dos pais de Betty e o monstruoso desejo que nutria pela jovem adolescente, tresloucado pelo desespero que o consumia, resolve lançar-se numa fúria motórica pela estrada que a chuva havia tornado demasiado escorregadia...
Kenneth Anger viria a recuperar esta música para a banda sonora de um dos primeiros filmes sobre motoqueiros marginais, o polémico Scorpio Rising, e também Russ Meyer, mestre dos filmes de baixo orçamento mas generosos seios, efectuou uma incursão por este género em 1965 com a película Motorpsycho, na qual encontramos um dos primeiros retratos em cinema de um veterano da guerra do Vietname perturbado.
Contudo, o grande marco inauguratório do "Outlaw Biker Film" foi The Wild Angels de 1966. Realizado por Roger Corman, este filme contava com Peter Fonda no principal papel, sendo assim a primeira associação do actor com a contracultura dos anos 1960, três anos antes de Easy Rider. Em The Wild Angels, para além da violência e do sexo, encontramos outro lugar comum associado aos grupos de motoqueiros: o consumo de substâncias psicotrópicas. Com maior ou menor grau de precisão, poderíamos considerar que o motoqueiro facultava um contraponto óbvio ao hippie. Os dois nada mais seriam que os lados da mesma moeda, o Yin e Yang dos frenéticos anos 1960, uns dedicados à paz e ao amor, os outros ao sexo e à violência, ambos hedonistas e eminentes adeptos da iniciação alucinogénea.
Numerosos filmes surgiram após o recepção calorosa pelo público de The Wild Angels. Hells Angels On Wheels de 1967 contava com um Jack Nicholson em início de carreira e, no mesmo ano, o recentemente falecido Dennis Hopper protagonizava The Glory Stompers. Mais tarde, a união de Fonda, Hopper e Nicholson daria origem ao clássico Easy Rider que, na realidade, é a antítese do "Outlaw Biker Film". Em Easy Rider, ao invés de serem explorados os receios da populaça através da atribuição de caracteres diabólicos ao motoqueiro, são elencadas uma série de questões e tensões sociais que assolavam a sociedade americana, tais como a queda do movimento hippie, o estilo de vida comunal, o consumo de drogas e, sobretudo, o preconceito das em relação à condição de motoqueiro que uma década de "Outlaw Biker Films" ajudou a cimentar.
Laboratório Chimico, 26 de Agosto de 2010
Foram recuperados numerosos temas das bandas sonoras de Motorpsycho, The Wild Angels, Naked Angels, Easy Rider. Para além disso foi possível escutar "Leader Of The Pack" retirado da compilação "Myrmidons Of Melodrama" das The Shangri-las, e o novo albúm dos Acid Eater, apropriadamente intitulado "Black Fuzz On Wheels".
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