Ευάνγελος Οδυσσέας Παπαθανασίου, Filho de Afrodite

Ao percorrer as faixas da compilação "The BYG Deal", editada pela Finders Keepers em 2009, deparamo-nos com um nome improvável, o qual motivou a emissão de 17 de Junho de 2010 do Laboratório Chimico. Fundada em 1968 no seguimento das revoltas estudantis, a BYG funcionou como catalisador da cena underground francesa, alimentando apetites colectivos pelo jazz, blues e rock psicadélico, e acalentando a chama criativa inspirada pela revolução. Neste registo compilatório encontramos nomes familiares, como Gong ou Brigitte Fontaine, a par do misterioso nome reproduzido no título deste texto, (Evangelos Odysseas Papathanassiou) cujos amantes da música sintetizada rapidamente reconhecerão como Vangelis. Em "The BYG Deal" dois temas pertencem-lhe, um atribuído a Vangelis e outro ao projecto Alpha Beta, revelando uma faceta do grego, para muitos desconhecida, pontuada pelo delírio psicadélico e que suscitou uma viagem pela sua história pessoal com o intuito de averiguar se outras improbablidades estariam ocultas por detrás do véu encadeador que foram os seus grandes sucessos como compositor de bandas sonoras.



Nascido em 1943, Vangelis deu os primeiros passos da sua carreira profissional no grupo The Forminx, o qual se tornou bastante reconhecido e conceituado na Grécia, até ao término de actividades em 1966. Um ano mais tarde, Evangelos Odysseas Papathanassiou junta-se a outra vaca sagrada da música helénica, Demis Roussos, formando os Aphrodite's Child, projecto de pop psicadélico cujo nome derivava de uma música de Dick Campbell contida no albúm "Sings Where It's At". Os primeiros trabalhos deste quarteto podem ser encontrados no disco do seu compatriota George Romanos "In Concert And In The Studio", contudo, considerando a sua terra natal um campo pouco fértil para o estilo musical que praticavam, optam por partir em direcção à Meca do psicadelismo europeu, Londres.


A viagem foi conturbada. Os músicos acabariam por não conseguir as licenças de trabalho exigidas pelo Reino Unido, o que, conjuntamente com as greves e protestos estudantis em Maio de 68, determinaram o assentar de arraiais dos Aphrodite's Child em Paris. Nesta cidade assinam pela Mercury Records e gravam dois discos, "End Of The World" em 1968, e "It's Five O'Clock" em 1969, ambos aclamados pela crítica e carinhosamente acolhidos pelo público. A jóia da coroa e último dos três albuns de originais do grupo começa a ser gravado em 1970, num momento em que as tensões entre os membros começavam a emergir. Tratava-se de um albúm conceptual, fruto do trabalho de Vangelis com o letrista Costas Ferris de adaptação do livro bíblico "Apocalipse de São João", intitulado "666".

Verdadeira revelação de rock progressivo e psicadélico, destacando-se pela ausência da sensibilidade pop que permeava os outros registos, "666" motivou um longo litígio entre Vangelis e a editora, a qual objectava a inclusão da faixa "∞" onde Irene Papas repetia as palavras "I was, I am, I am to come" num registo de histeria erótica. Outro foco de conflito era uma pequena referência na capa do disco onde se podia ler que este tinha sido gravado sob a influência de Sahlep. Erroneamente interpretada como um substância psicotrópica ou ritual ocultista, Sahlep era simplesmente uma bebida popular no Mediterrâneo Oriental, e o duplo LP lá acabou por ver a luz do dia em 1972, através da Vertigo Records, subsidiária da Mercury, numa altura em que os Aphrodite's Child já se haviam separado para prosseguirem carreiras individuais de sucesso variável.


Mas a história paralela de Vangelis pela música psicadélica não terminou com o apocalipse dos filhos de Afrodite. Em 1971 participa numa série de sessões de improvisação nos estúdios Marquee em Londres, das quais resultariam dois albuns, "Hypothesis" e "The Dragon", lançados em 1978 sem a autorização do músico, acabando por ser retirados do mercado pouco tempo depois. O rock progressivo continuou, assim, presente nas primeiras fases do seu trabalho em nome próprio, dando paulatinamente lugar à electrónica. O reconhecimento internacional, esse veio no formato banda sonora, com os sucessos de "Charriots Of Fire" e "Blade Runner", mas essa é outra história...

A incursão pelo passado de Vangelis teve a seguinte banda sonora:
Vangelis - "Stuffed Tomato" (V.A. - The BYG Deal)
Alpha Beta - "Atral Abuse" (V.A. - The BYG Deal)
Dick Campbell - "Aphrodite's Child" (Sings Where It's At)
George Romanos - "Eisagogi" (Two Small Blue Horses / In Concert And In The Studio)
Aphrodite's Child - "Valley Of Sadness" (End Of The World)
Aphrodite's Child - "Let Me Love, Let Me Live" (It's Five O'Clock)
Aphrodite's Child - "All The Seats Were Ocuppied" (666)
Vangelis - "Stuffed Aubergine" (The Dragon)

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