As Portas da Percepção

No dia 2 de Julho de 2009, Vasco Otero (Cinemusicorium) presenteou-nos com um Laboratório Chimico dedicado ao livro "As Portas da Percepção / Céu e Inferno" de Aldous Huxley, editado em Portugal pela Via Óptima em 2008.

Dois importantes ensaios sobre o efeito da ingestão de drogas e suas implicações mentais e éticas. N'as portas da percepção, de 1954, o romancista inglês descreve suas experiências pessoais com mescalina, alcalóide extraído de um cacto mexicano, sob supervisão médica, enquanto que em céu e inferno, de 1956, faz uma análise crítica do uso de drogas. O autor constata que, se as alucinações produzidas pela droga podem alcançar uma atmosfera mística, também podem conduzir o paciente às margens da auto-aniquilação.

"If the doors of perception were cleansed everything would appear to man as it is, infinite."
William Blake

Baseando-se nesta citação, Huxley assume que o cérebro humano filtra a realidade de modo a não permitir a inundação sensorial de todas as impressões e imagens que existem efectivamente na realidade perceptível. Se tal hecatombe acontecesse, o processamento de uma tão grande quantidade de informação seria simplesmente insuportável para o ser humano. De acordo com esta perspectiva, as drogas poderiam reduzir esse processo de filtragem, ou "abrir as portas da percepção", como é dito metaforicamente. Com o intuito de verificar esta teoria, Huxley começou a tomar mescalina e a descrever os seus pensamentos e sentimentos sob o efeito da droga. A sua principal conclusão será a de que os objectos do nosso quotidiano perdem a sua funcionalidade, passando a existir "por si mesmos". Além de drogas ou substâncias psicotrópicas como a mescalina, o LSD, a psilocibina, etc, outras formas citadas para a abertura das portas da percepção seriam: períodos prolongados de silêncio e isolamento, jejuns prolongados e auto-flagelações. O livro foi a fonte de inspiração para o nome da banda The Doors, que apresenta, no conjunto, uma obra com características similares às do livro.

Na edição da Via Óptima, o céu e inferno segue-se imediatamente à obra supracitada, embora seja um livro distinto. Aqui Huxley afirma a existência de alternativas, caminhos paralelos ou vias diferentes, referindo que não precisamos necessariamente de substâncias alucinógenas para conhecer o Outro Mundo, assim denominado pelo autor. Várias coisas são arrebatadoras para os antípodas da mente, como as obras de arte, as abstinências, autoflagelações, ou mesmo, muito simplesmente, as orações. Todos estas acções voluntárias, sem excepção, alteram a bioquímica do corpo produzindo efeitos iguais aos do ácido lisérgico ou da mescalina. O livro é ainda devedor das formulações Jungianas de arquétipos colectivos, revelando o motivo dos simbolismos religiosos, característicos em todas as culturas.
Além de descrever com mestria os efeitos da utilização de drogas alucinógeneas, Huxley faz um tratado sobre o uso de drogas e várias questões referentes ao tema são equacionadas, numa obra ímpar para se entender mais sobre a utilização de drogas.

Vasco Otero

Audição do programa em podcast aqui.
Mais informações assim como versões dos textos em pdf podem ser encontradas aqui
Aldous Huxley e o nascimento do psicadelismo aqui

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