Um globo formado por uma fina película iridescente de água saponosa cheia de ar que flutua na atmosfera: assim se define a bolha de sabão. A sua película, tão fina como um milésimo de um fio de cabelo, não é senão água encurralada entre duas camadas de moléculas tensoactivas, ou seja, moléculas com pontas hidrofílicas, atraídas pela camada de água e que mantêm assim a bolha intacta, mas com caudas hidrofóbicas que, se agitadas, fazem a bolha explodir. Nela parecem reflectir-se as cores do arco-íris. Porém, esse fenómeno iridescente deve-se tão-somente a uma interferência entre os raios de luz que se reflectem sobre o exterior da película e os que se reflectem no interior da bolha. Essa estrutura tão frágil, mas tão sublime e aparentemente tão geometricamente perfeita sempre encantou tanto os mais ingénuos, as crianças, como os artistas, os poetas e os mais sábios. Uma insignificante maravilha do quotidiano que terá servido a elaboração de complexas teorias matemáticas, físicas e químicas. Pois que, na verdade, nela estão em jogo os três estados da matéria num equilíbrio extremamente frágil e efémero, como se por breves momentos nela se reflectisse todo o cosmos – superfície cosmodélica - antes de desaparecer repentinamente e assim cumprir a sua vocação evanescente. E não passa de uma bolha de sabão! Mas, o mistério deste fenómeno terá mesmo que ver com as qualidades químicas da solução saponosa, isto é, com o facto de no sabão dissolvido com água se formarem cristais líquidos liotrópicos.
Os cristais líquidos são estados da matéria que apresentam características dos líquidos e dos sólidos simultaneamente e são precisamente as suas qualidades anfifílicas – ao mesmo tempo hidrofílica e hidrofóbica – que permitem ao sabão dissolvido em água passar pela fase liotrópica liquido-cristalina. Os níveis de concentração das moléculas variam e a sua progressão dá-se por diversas fases de auto-organização. A possibilidade de observar, fotografar e filmar ao microscópio a evolução de fases dos cristais líquidos permitiu apreciar os efeitos luminescentes e multicolores produzidos pela interacção da luz.
Em 1978, o realizador de documentários científicos, Jean Painlevé, fez um filme a partir dos trabalhos do biólogo Yves Bouligand sobre a transição de fases de cristais líquidos termotrópicos. Segundo o autor, o filme servia para ilustrar “L’Antarctique”, a última obra musical do compositor francês François de Roubaix – e que escutávamos em fundo -, com as ondulações e transformações morfogenéticas dos cristais líquidos, dignas de um qualquer Liquid Light Show psicadélico dos anos 60. Com efeito, esta banda-sonora havia sido composta em meados dos anos 70 para um documentário do famoso Jacques-Yves Cousteau sobre a Antártida. No entanto, ela fora recusada e, depois da morte do compositor, recuperada por Jean Painlevé. O nome pouco conhecido de François de Roubaix esconde um talento musical de extraordinário valor, sobretudo, na composição de bandas sonoras, onde os instrumentos analógicos se concertam harmoniosa e organicamente com os sons electrónicos dos sintetizadores. Embora nunca tenham ouvido falar deste nome, é muito provável que muitos recordem ainda a melodia e as jocosas sequências electrónicas da série de animação Chapi-Chapo, onde duas crianças divertidas brincavam com sólidos geométricos e coloridos. Depois de escutarmos a música de Roubaix, utilizada em “Crystaux Liquides”, ouvimos ainda um excerto de Chapi-Chapo, para fechar com alguma nostalgia uma crónica que começou com meras bolhas de sabão.
Os cristais líquidos são estados da matéria que apresentam características dos líquidos e dos sólidos simultaneamente e são precisamente as suas qualidades anfifílicas – ao mesmo tempo hidrofílica e hidrofóbica – que permitem ao sabão dissolvido em água passar pela fase liotrópica liquido-cristalina. Os níveis de concentração das moléculas variam e a sua progressão dá-se por diversas fases de auto-organização. A possibilidade de observar, fotografar e filmar ao microscópio a evolução de fases dos cristais líquidos permitiu apreciar os efeitos luminescentes e multicolores produzidos pela interacção da luz.
Em 1978, o realizador de documentários científicos, Jean Painlevé, fez um filme a partir dos trabalhos do biólogo Yves Bouligand sobre a transição de fases de cristais líquidos termotrópicos. Segundo o autor, o filme servia para ilustrar “L’Antarctique”, a última obra musical do compositor francês François de Roubaix – e que escutávamos em fundo -, com as ondulações e transformações morfogenéticas dos cristais líquidos, dignas de um qualquer Liquid Light Show psicadélico dos anos 60. Com efeito, esta banda-sonora havia sido composta em meados dos anos 70 para um documentário do famoso Jacques-Yves Cousteau sobre a Antártida. No entanto, ela fora recusada e, depois da morte do compositor, recuperada por Jean Painlevé. O nome pouco conhecido de François de Roubaix esconde um talento musical de extraordinário valor, sobretudo, na composição de bandas sonoras, onde os instrumentos analógicos se concertam harmoniosa e organicamente com os sons electrónicos dos sintetizadores. Embora nunca tenham ouvido falar deste nome, é muito provável que muitos recordem ainda a melodia e as jocosas sequências electrónicas da série de animação Chapi-Chapo, onde duas crianças divertidas brincavam com sólidos geométricos e coloridos. Depois de escutarmos a música de Roubaix, utilizada em “Crystaux Liquides”, ouvimos ainda um excerto de Chapi-Chapo, para fechar com alguma nostalgia uma crónica que começou com meras bolhas de sabão.