YaHoWha 13

No primeiro dia de Abril de 1969 abria em Los Angeles o "The Source", um restaurante de comida saudável que se constituiu como força mobilizadora do que viria a ser a "The Source Family", uma comuna hippie de adoradores de Father Yod, o seu patriarca e líder espiritual incontestado. 40 anos volvidos, o Laboratorio Chimico aproveitou a efeméride e dissecou o trabalho da extensão musical do grupo, os YaHoWha 13.


James Eduard Baker (mais tarde Father Yod e ainda YaHoWha), que havia sido marine na II Grande Guerra Mundial com direito a medalha de honra, foi um beatnick e nature boy durante os anos 50, em LA, remetendo-se a uma vivência proto-hippie quiçá como expiação das experiências do teatro de guerra. Durante os anos 60 aprimorou o seu interesse pelas tradições esotéricas orientais, tornando-se monge vedanta. "The Source", o seu terceiro restaurante vegetariano, rapidamente granjeou vasto sucesso, enquanto o magnetismo irresistível de Father Yod atraía até às imediações legiões de seguidores. Reconhecendo vibrações aquarianas em tal mobilização, Yod muda-se para uma mansão em Hollywood - a Mother House - com um numeroso grupo de acólitos seguidores que viriam a constituir a irmandade "The Source Family". De vestes brancas, a Família preconizava uma rigorosa devoção a um programa de práticas espirituais que envolviam meditação e yoga, dieta vegetariana, comunhão e respeito para com os animais, alteração dos papéis de género convencionais, magia, sexo tântrico e partos naturais. Na época, muitos foram os movimentos que proliferaram na Califórnia pregando caminhos espirituais e amor livre, mas terá sido a sua organização e ética auto-suficiente e anti-propagandística que marcaram uma certa distinção e credibilidade dos demais.


A música surgia assim como válvula de escape para a energia criativa da comuna. Entre 1973 e 1975 as várias encarnações deste sub-culto - o grupo denominou-se Father Yod & The Spirit of '76, The Savage Sons of YaHoWha, Fire Water Air (o significado cósmico-astrológico de YaHoWha, renomeados após a morte de YaHoWha) e YaHoWha 13 (uma alusão às 13 mulheres de Father Yod?) - geraram mais de 60 discos que foram vendidos a preços honestos no restaurante, dos quais 9 foram produzidos e editados pela Higher Key, a editora da Família. Os discos - que contaram com a participação mais activa de Djin, Octavius, Sunflower e Rhythm Aquarian, para além, claro está, de YaHoWha - epitomizam os devaneios psicadélicos do grupo através do rock ácido feito de guitarras distorcidas e percussões tribais (de que Penetration: an Aquarian Symphony e I'm Gonna Take You Home serão os melhores exemplos) acompanhadas pelas entoações shamânicas do guru Yod, que, em tom sussurrante ou histérico, apregoa as doutrinas da irmandade ocasionalmente reforçado por coros femininos (Kahoutek, Expansion, Contraction, To the Principles for the Children). O rock eléctrico improvisado em tom freak-out predomina, embora também seja possível escutar algum pendor blues (YaHoWha e Savage Sons of YaHoWha) ou formatos acústicos estruturados em canções com letras cândidas (All or Nothing at All).
No final de 1974, "The Source" é vendido e a Família muda-se para o Hawai. Bem menos tolerante do que LA, o acolhimento insular não foi o mais caloroso, obrigando a um período de indefinição quanto ao poiso do grupo, apesar de se instalarem na ilha de Oahu. É neste contexto de indefinição e alguma desagregação que um acidente de asa-delta acaba por vitimar YaHoWha, em 25 de Agosto de 1975. Sem ferimentos visíveis de monta, o Pai não conseguia mexer-se e, rejeitando medicamentos, foi levado para casa ao cuidado das suas 13 mulheres e mais de 140 filhos e filhas, morrendo horas depois. Em Janeiro de 1977 a Família desmembrou-se.

Um dos membros da Família foi Sky Sunlight Saxon, que pertencera aos The Seeds. Saxon participou nas gravações do disco Golden Sunrise (creditado a Fire Water Air). Terá sido Saxon a negociar com a editora nipónica Captain Trip a edição de God and Hair, em 1998, uma caixa de 13 CD's com a mais significativa amostra do trabalho musical do grupo. A editora britânica Swordfish Records tem reeditado individualmente alguns discos do grupo. Sky Saxon mantém uma colaboração com outro irmão, Djin Aquarian - que também edita trabalhos a solo -, no grupo King Arthur's Court. Em 2007, por ocasião da publicação do livro de Isis e Electricity Aquarian "The Source: The Untold Story of Father Yod, Ya Ho Wha 13 and The Source Family" (Process Media) os elementos musicalmente activos do grupo (Djin, Octavius e Sunflower Aquarian) voltam a reunir-se para concertos, acabando por gravar algum material e editarem pela Prophase, já no final de 2008, o álbum Sonic Portation.


Aqui, entrevista com os YaHoWha 13 (2002).

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